sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Cão, como nós...

2h 24 - cansado e já a pensar na minha cama, desci do autocarro e iniciei o meu percurso até casa, como em tantas outras vezes... Mas passaram poucos segundos até que tudo fosse diferente. Aquele cão, que ali estava na esquina do jardim, olhou para mim e de imediato começou a agir como se eu fosse o dono. Assim, sem mais nem menos, sem eu lhe acenar, sem olhar para ele, sem lhe dizer nada... Simplesmente começou a caminhar atrás de mim...
Achei estranho, mas pensei que só ia dar meia dúzia de passos comigo e que depois voltaria para trás. Enganei-me... e quando o percebi, comecei a parar e a mandá-lo embora ou a dizer-lhe "fica aí". Ele parava, olhava para mim, dava sinal de que iria ficar por ali. Mas quando eu virava costas e reiniciava o percurso, lá vinha ele. Tentei de tudo naqueles 10minutos até casa. Andar mais depressa, atravessar a rua, mandá-lo embora, confesso que até tentei esconder-me dele por trás de arbustos e carros. Só que o cão, branco e aparentemente bem tratado para um cão de rua, já agia como se eu fosse mesmo o dono, como se eu tivesse estado sempre ali. Até quando me escondia ele vinha à minha procura rapidamente, como se tivesse perdido peça importante na vida dele.

2h34 - Aquele curto caminho até casa tinha hoje durado um pouco mais, naquele bailado para tentar evitar este desfecho. Ali estávamos, eu e um cão que nunca tinha visto, à porta do meu prédio. Fiz-lhe uma festa na cabeça e de imediato se sentou no chão, como que a prestar-me vassalagem. Pedi-lhe para não vir atrás de mim, mas ele não percebia... Entrei no prédio, a porta fechou-se. O cão veio até à porta do prédio, deitou-se lá e ficou a olhar para mim, como que não percebendo o porquê daquele afastamento. Custou-me entrar no elevador e subir, senti um enorme aperto no coração. Cheguei a casa e lá estava o meu cão à minha espera. Só lhe disse "nem sabes a sorte que tens"... e vim para a cama. Passou quase uma hora e meia desde que saí do autocarro, cansado, e ainda não consegui dormir.

... e pensar que, por tantas vezes, já fui "o cão" desta história.

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